terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

E se a Alemanha pagasse o que deve à Grécia?

O ministro das Finanças alemão mostrou-se hoje “muito cético” sobre a possibilidade de chegar a acordo com a Grécia na reunião do Eurogrupo e lamentou que os gregos tenham eleito um governo “que se comporta de maneira irresponsável”. “Sinto muito pelos gregos. Elegeram um governo que de momento se comporta de maneira bastante irresponsável”, disse Wolfgang Schauble em declarações a uma rádio alemã.
Segundo Schauble, a Grécia estava no bom caminho para resolver a crise até que chegou o novo governo presidido por Alexis Tsipras. O ministro alemão insistiu que, para receber ajuda dos outros países da zona euro, a Grécia tem que mostrar como no futuro vai assegurar os meios suficientes para financiar as suas próprias pretensões, Ou seja, os gregos terão de cumprir alguns requisitos mínimos para continuarem no euro. De momento, segundo Schauble, não há nada que indique que o Governo de Tsipras vai apresentar uma proposta.
Entretanto a Irlanda, um país que teve de recorrer à ajuda da União Europeia, do BCE e do FMI em 2010, mas já deixou o memorando e regressou aos mercados, acusa o programa de Tsipras de ser irrealista e recusa aliviar o nó da gravata dos gregos, conta o Financial Times. Está agendada para esta segunda-feira uma reunião em Bruxelas entre os ministros das Finanças da zona euro, na qual será discutida a possibilidade de prolongar os prazos para o pagamento da dívida grega. A Irlanda, que acabou por antecipar alguns pagamentos ao FMI, está contra.
O que os irlandeses “estão a dizer é: ‘nós fizemos o nosso trabalho de casa, não foi fácil, e parte desse trabalho de casa é deixar a Alemanha feliz, e os gregos estão a ser irrealistas'”, explica ao FT Tom Healy, diretor do Instituto de Investigação Nevin Economic.
O diário britânico descreve a atitude irlandesa, semelhante às de Portugal e de Espanha, como refletindo falta de solidariedade. Na génese desta postura, diz o FT, estão os esforços e as reformas levadas a cabo por cada um destes governos, e que a Grécia não fez. Esta posição irlandesa está a merecer várias criticas por parte da oposição, comentadores e economistas, que consideram que a Grécia mereceria outro tipo de apoio, mesmo que a Irlanda não tenha tido direito à folga que agora os gregos pedem (ou exigem).
“Temos desconsiderado os gregos e a sua situação. Não fizemos nada para nos posicionarmos para os ajudar”, acusou Michael McGrath, o porta-voz para as Finanças do partido da oposição Fianna Fáil. Já Stephen Kinsella, um economista da Universidade de Limerick, foi mais corrosivo na critica: “Eles [governantes alemães e irlandeses] têm os números de telefone uns dos outros; eles vão jantar fora juntos.”
Apesar do crescimento que se tem verificado da economia irlandesa, dos empregos criados e da boa performance nos mercados sem que o Estado Social sofresse um grande impacto, o FT recorda que existem eleições legislativas no espaço de um ano, o que pode, em caso de mudança de governo, levantar pontos de interrogação. E esta atitude do Governo poderá não ajudar a suavizar a situação no caso de os ventos mudarem. “Devíamos ser mais solidários quanto ao debate pan-europeu sobre a sustentabilidade da dívida”, defende a oposição pela voz de McGrath, recordando que a Irlanda é ainda “um país altamente endividado”.

Saída da Grécia da zona euro seria a pior solução, diz diretor do fundo de socorro do euro 

Já Klaus Regling, o diretor do fundo de socorro do euro (ESM na sigla inglesa), prefere uma atitude mais cautelosa quanto à eventual saída dos gregos do euro, conta o Wall Street Journal. “Seria a pior solução para a Grécia e para a zona euro”, disse numa entrevista televisiva no domingo, garantindo que tudo terá de ser feito para travar a situação.
“Quando um governo recentemente eleito tem diferentes prioridades do anterior é compreensível e não é nada de novo”, explicou Regling. “Também vimos este cenário quando o governo na Irlanda mudou a meio do programa”, disse, avisando que é possível fazer algumas alterações na caminhada sem que “a principal direção” seja afetada.
Kinsela, o economista da Universidade de Limerick, também prefere uma atitude prudente, que afaste esse cenário. “Se isso é um risco, a Irlanda deveria fazer mais ‘barulho’ construtivo.”

(Expresso, 16.2.2015)

Carnaval

 

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Arquivo de Eduardo Lourenço: cem mil euros por cem mil documentos


Adquirido pela Biblioteca Nacional no final de Janeiro por cem mil euros, o acervo documental de Eduardo Lourenço tem uma dimensão muito superior à que foi inicialmente divulgada. Os mais de 11 mil documentos citados em várias notícias apenas dizem respeito,afinal, à sua correspondência.
Ninguém sabe ainda ao certo quantos documentos integram o arquivo de Eduardo Lourenço adquirido pela Biblioteca Nacional (BN) em Janeiro passado por cem mil euros, mas enchem “102 caixas e 431 dossiers”, precisou ao PÚBLICO a presidente da BN, Inês Cordeiro.
A informação, divulgada em vários jornais, de que o acervo se comporia de cerca de 11 mil documentos está errada, sendo provável que o equívoco se tenha ficado a dever a uma confusão entre a totalidade dos documentos e a parcela que diz respeito à correspondência do autor.
As cartas conservadas por Lourenço é que já foram inventariadas e ultrapassarão as 11 mil, constituindo um valioso testemunho dos diálogos que o autor de Pessoa Revisitado (1973), O Labirinto da Saudade (1978) ou O Canto do Signo (1994) foi mantendo ao longo de décadas com escritores portugueses de várias gerações, e também com autores estrangeiros. “No total, poderão ser cem mil ou 120 mil documentos”, arrisca João Nuno Alçada, grande responsável pela vinda para Portugal deste impressionante acervo que Eduardo Lourenço foi acumulando ao longo de décadas na sua casa de Vence, em França. Foi também Alçada que deu início à organização e catalogação do arquivo, um trabalho que começou a ser feito há já alguns anos, com o apoio da Gulbenkian, do Centro Nacional de Cultura e da Fundação EDP, nos vários lugares que foram provisoriamente acolhendo estes papéis: a própria Gulbenkian, a Torre do Tombo e, finalmente, a Biblioteca Nacional.
A directora da BN não tem dúvidas de que este é um dos mais extensos núcleos documentais a integrar o Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea, e observa ainda que a sua “integralidade”, a “garantia de que está ali praticamente tudo”, lhe confere um valor muito particular.
E basta pensar nas Obras Completas de Eduardo Lourenço em curso de publicação pela Gulbenkian – com coordenação científica de João Tiago Pedroso de Lima e Carlos Mendes de Sousa – para se perceber a vantagem que representa para os responsáveis do projecto o acesso ao arquivo integral. A julgar pelos volumes já divulgados, a lógica tem sido a de agregar a cada título originalmente publicado por Lourenço um extenso conjunto de outros textos seus que partilham o mesmo universo temático, um critério que deveria implicar percorrer todo o acervo para garantir que não fica de fora nenhum ensaio ou artigo relevante.
Ainda que esse propósito de exaustividade esteja sempre potencialmente ameaçado pela própria vitalidade intelectual de Lourenço, que aos 91 anos mantém a sua proverbial dificuldade em recusar solicitações para colóquios e afins e continua a escrever ou improvisar oralmente sobre os mais diversos temas e autores.
Mas nem tudo o que está no acervo poderá ser publicado de imediato. Neste momento, o acesso à documentação está aliás limitado à equipa que trabalha na sua inventariação e organização e aos investigadores envolvidos quer no projecto das obras completas em curso de publicação pela Gulbenkian, quer na preparação dos novos títulos de Lourenço que vêm sendo editados pela Gradiva, onde saiu já este ano Do Brasil: Fascínio e Miragem, um livro que compreende textos dispersos e inéditos de diversa natureza e redigidos ao longo de quase 70 anos, entre 1945 e 2012.
No total, e segundo a directora da BN, há apenas 27 pessoas autorizadas por Eduardo Lourenço a consultar esta documentação. Uma restrição habitual em acervos deste tipo, e que é fácil de compreender se pensarmos que a BN conserva agora milhares de cartas que Lourenço trocou com autores como Miguel Torga, Adolfo Casais Monteiro, Vergílio Ferreira, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, José Cardoso Pires ou António Lobo Antunes, para citar apenas um pequeno número dos seus correspondentes, que inclui ainda muitos dos mais importantes investigadores estrangeiros da obra de Pessoa.
Tendo em conta as características do meio literário português, que não serão muito diferentes das de qualquer outro, e o presumível grau de intimidade que Lourenço manteria com alguns destes seus correspondentes, não é difícil imaginar-se a trapalhada que adviria da divulgação imediata e irrestrita de todas estas cartas. Numa entrevista publicada esta semana no Jornal de Letras, João Nuno Alçada conta que Eduardo Lourenço permitiu, por exemplo, o estudo e posterior publicação da correspondência com Casais Monteiro ou José-Augusto França, mas interditou a consulta do seu diálogo epistolar com Vergílio Ferreira e foi avisando que há alguns textos que “nem daqui a 30 anos” poderão ser publicados.
Luís Miguel Queirós
(Público, 6.2.2015)

Por uma vez, o Estado fez algo pelo património cultural!

Férias na neve


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Regicídio

No exterior da Faculdade de Ciência de Lisboa.
Se os monárquicos não carimbassem as ruas da cidade, não haveria respostas como esta (e com erro ortográfico). Digo eu que sou republicano e que acho a monarquia uma coisa de outro mundo.