sábado, 30 de novembro de 2019

O peso de haver o mundo


Passa no sopro da aragem
Que um momento o levantou
Um vago anseio de viagem
Que o coração me toldou.

Será que em seu movimento
A brisa lembre a partida,
Ou que a largueza do vento
Lembre o ar livre da ida?

Não sei, mas subitamente
Sinto a tristeza de estar
O sonho triste que há rente
Entre sonhar e sonhar.

19.05.1932
Fernando Pessoa

terça-feira, 26 de novembro de 2019

domingo, 24 de novembro de 2019

Leituras - 110


"Nat, 47 anos, veterano dos Serviços Secretos Britânicos, pensa que o seu tempo como controlador de agentes chegou ao fim. Está de regresso a Londres com a mulher, a paciente e dedicada Prue. Mas, face à crescente ameaça do Centro de Moscovo, a repartição tem mais uma missão para ele. Nat é nomeado chefe do Porto de Abrigo, um inoperante subposto da Geral de Londres com um bando de espiões incompetentes. A única estrela da equipa é a jovem Florence, que tem aspirações ao departamento da Rússia e está de olho num oligarca ucraniano com fortes ligações ao regime russo. Nat não é apenas um espião, é um apaixonado jogador de badmínton. O seu adversário habitual das segundas-feiras tem metade da sua idade: o introspetivo e solitário Ed. Ed odeia o Brexit, odeia Trump e odeia o emprego que tem numa impiedosa agência de comunicação."

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Velho que ninguém atura

Foto de Pedro Simões

Velhos que ninguém atura
a não ser a literatura
e outros velhos
(Alexandre O'Neill)

Um velho
encosta-se à sua velhice como a um muro
com a cal bem desbotada.
Deixa separarem-se as memórias
em blocos estanques sem diacronia
enquanto o sol corre atrás da linha do horizonte
para se precipitar a ocidente.
Um velho
é coisa de se ouvir e de pensar.

Guardaste o que te liga à terra
ou deixaste que o muro te cobrisse
como mortalha de cal?
Um velho não esquece, apenas interpõe
faixas de esquecimento
entre momentos de memória intemporal.
Um velho luta assim contra o tempo
antes que o sol desabe a ocidente
e deixe de significar.

Luís Filipe Castro Mendes

domingo, 17 de novembro de 2019

Viste o cavalo varado a uma varanda?


Viste o cavalo varado a uma varanda?
Era verde, azul e negro e sobretudo negro.
Sem assombro, vivo da cor, arco-íris quase.
E o aroma do estábulo penetrando a noite.

Do outro lado da margem ascendia outro astro
como uma lua nua ou como um sol suave
e o cavalo varado abria a noite inteira
ao aroma de Junho, aos cravos e aos dentes.

Uma língua de sabor para ficar na sombra
de todo um verão feliz e de uma sombra de água.
Viste o cavalo varado e toda a noite ouviste
o tambor do silêncio marcar a tua força

e tudo em ti jazia na noite do cavalo.

António Ramos Rosa

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Leituras - 109


«Dear Readers: Everything you've ever asked me about Gilead and its inner workings is the inspiration for this book. Well, almost everything! The other inspiration is the world we've been living in.»
Margaret Atwood

Este romance é a continuação de A história de uma serva, de que gostámos muito. Aliás, cá em casa somos todos fãs desta escritora.


domingo, 10 de novembro de 2019

Leituras - 108


Bruce Springsteen já vendeu mais de 120 milhões de discos em todo o mundo e ganhou inúmeros prémios, incluindo 20 Grammy, dois Globos de Ouro e um Óscar, além de ter sido incluído no Hall da Fama dos compositores e no Rock and Roll Hall da Fama.
Este livro apresenta mais de 250 apreciações de fãs que assistiram a um espetáculo ao vivo de Bruce Springsteen, desde final dos anos 60 em Nova Jersey até aos seus últimos espetáculos. Fãs dos EUA, Reino Unido, Austrália e Europa partilham histórias, fotografias e recordações que nunca foram publicadas antes e contam-nos as suas experiências de ver um dos maiores cantautores do mundo ao vivo.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

As pessoas sensíveis


As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão"

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

Sophia de Mello Breyner Andresen