O meu primeiro amor
Chamava-se Maria
Leonor;
O segundo, Sophia
Eulália Pimentel;
O terceiro, que lembro com fervor,
Chamava-se Rachel…
Era um anjo exilado, uma pomba sem fel!
De todas foi a mais amada …
Quando a perdi (levou-a a Morte), oh dor immensa!
Ficou-me a alma encarcerada
Dentro da praça d’Olivença,
Onde Ella tinha o berço e a virginal morada!
Das outras, a primeira, a Maria Leonor
(esta lembrança é um horror!)
Trahiu-me com um primo, um primo d’ella e meu,
Estoira-vergas desvairado,
Só por tocar guitarra e por cantar o fado
Melhor do que eu.
A segunda, Sophia Eulália Pimentel,
Donzella gothica e feudal,
Foi apenas a visão, sonho de Menestrel
Em velha Côrte medieval…
Muitas outras depois, muitas outras mulheres,
Doido romantico, adorei;
Ah! quantas ilusões e quantos malmequeres
Por todas ellas desfolhei!
Mas nenhuma deixou recordação tão doce
Como a linda Rachel…
Ah! se ella viva fôsse,
Quanta impura triaga, quanto fel
Eu teria evitado
Como homem casado!
Mas … lá diz o ditado:
Casamento e mortalha
No céu se talha,
Embora ás vezes o casamento
Seja um tormento,
Que mais parece fogo do Inferno
Que bico de obra das mãos do Eterno…
Foi por essa razão
Que simultaneamente e sucessivamente,
Com o meu coração
Atormentado e doente,
Me consagrei a amar
As mais diversas criaturas,
Mas já sem intenção de me casar:
Alem do mais, por serem duras
As minhas circunstâncias actuaes,
E bicudos os tempos para taes
Cavallarias.
Jamais, depois, tomei mulher senão a dias!
É um deleite a variedade…
Para o provar, meu tio abbade,
Com eloquencia e grande erudição, citava
A resposta que Luis XIV sempre dava
Ao confessor,
Quando este lhe exprobava inconstancias d’amor:
Nem sempre gallinha,
Nem sempre rainha…
Imagina, por isso,
Oh Thomásia! Oh sereia!
Já não digo a paixão, mas o immenso derriço,
Que a ti me prende e enleia,
Vendo que já lá vão três semanas e meia
Desde que estás ao meu serviço!
António Feijó