João Vaz - Paisagem de Colares
Viseu, Museu Nacional Grão Vasco
"De acordo com as convenções do sistema naturalista, João Vaz isola um pedaço de paisagem para a propor como alegoria da própria natureza que é bela sem finalidade, com silenciosa tranquilidade. A composição define, com eficácia, três planos: o primeiro, um chão seco onde a luz se concentra, preparando, por contraste, a erupção verticalizante dos corpos esguios dos pinheiros, definidores de um fluido plano intermédio, que se articula com o registo da distância, resolvido entre a mancha do vale com casario e a moldura da serra, pontuada por um vulto monumental, certamente o Palácio da Pena, em Sintra. O céu e as copas das árvores ocupam um terço do suporte, num efeito perspético de hábil sobreposição dos motivos, unificados por uma pincelada manchista que arrasta as cores em tonalidades tímbricas, dominadas pelos verdes azulados que, em pontos de fixação do olhar, abrem espaço a brancos e vermelhos matizados.
Uma estética fotográfica subjaz ao trabalho do pintor que dá a ver a paisagem como se fosse um dispositivo óptico, registando um momento luminoso com uma aura intencional de permanência. É este jogo subtil entre o aparente instantâneo e a construção da eternidade – o tempo longo da natureza - que é o cerne da pintura naturalista: ao contrário da paisagem romântica, é como se o pintor não estivesse lá, oferecendo-nos o seu olhar como o nosso olhar, concentrando nessa perceção espelhada a impressão da beleza.
Como pintor, João Vaz foi, sobretudo, um marinhista, afeivamente fiel às suas memórias de menino da beira-rio, nascido em Setúbal."
Raquel Henriques da Silva
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