«Sou uma figura de romance por escrever, passando aérea, e desfeita sem ter sido, entre os sonhos de quem me não soube completar.» Bernardo Soares
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
quinta-feira, 24 de dezembro de 2020
segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
domingo, 6 de dezembro de 2020
terça-feira, 1 de dezembro de 2020
segunda-feira, 30 de novembro de 2020
Deixei de ser aquele que esperava
Costa Pinheiro - O Poeta
Tapeçaria da Manufatura de Portalegre, 1984
Lisboa. Museu da Cidade
Isto é, deixei de ser quem nunca fui...
Entre onda e onda a onda não se cava,
E tudo, em ser conjunto, dura e flui.
A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fúria brava
É que a futura paz seu rastro obstrui.
Tudo depende do que não existe.
Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.
Nada me explica. Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence.
10-2-1933
Fernando Pessoa.
Poesias inéditas (1930-1935). Lisboa: Ática, 1955
sábado, 28 de novembro de 2020
domingo, 22 de novembro de 2020
terça-feira, 17 de novembro de 2020
Leituras - 124
Resta-nos ler, ver filmes e ouvir música. Este livro foi a minha última leitura:
Stephen "Hawking faz-nos uma visita guiada à história dos buracos negros, explicando os complexos paradoxos que os tornam tão intrigantes, assim como os difíceis desafios que estes colocam para a compreensão das leis universais. Para o professor, quanto mais perto estivermos de entender os buracos negros e o modo como desafiam as nossas noções de tempo e espaço, mais perto estaremos de desvendar os segredos do Universo. Escritas com simplicidade e o característico sentido de humor de Hawking, e acompanhadas de pertinentes anotações e divertidas ilustrações, estas palestras estão repletas de informações sobre buracos negros, a sua história e as várias teorias sobre a sua formação."
quarta-feira, 11 de novembro de 2020
Ao piano - 54
Rihard Jakopic - Ao piano (Noturno), 1912
Eslovénia, Galeria Nacional
Rihard Jakopic - Ao piano, 1907
Museu da Cidade de Liubliana
domingo, 8 de novembro de 2020
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
segunda-feira, 2 de novembro de 2020
Quem muito viu
Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos,
mágoas, humilhações, tristes surpresas;
e foi traído, e foi roubado, e foi
privado em extremo da justiça justa;
e andou terras e gentes, conheceu
os mundos e submundos; e viveu
dentro de si o amor de ter criado;
quem tudo leu e amou, quem tudo foi
- não sabe nada, nem triunfar lhe cabe
em sorte como a todos os que vivem.
Apenas não viver lhe dava tudo.
Inquieto e franco, altivo e carinhoso,
será sempre sem pátria. E a própria morte,
quando o buscar, há-de encontrá-lo morto.
Jorge de Sena
domingo, 1 de novembro de 2020
sexta-feira, 30 de outubro de 2020
quarta-feira, 28 de outubro de 2020
sexta-feira, 23 de outubro de 2020
quarta-feira, 21 de outubro de 2020
sábado, 17 de outubro de 2020
A palavra
A palavra é uma estátua submersa, um leopardo
que estremece em escuros bosques, uma anémona
sobre uma cabeleira. Por vezes é uma estrela
que projecta a sua sombra sobre um torso.
Ei-la sem destino no clamor da noite,
cega e nua, mas vibrante de desejo
como uma magnólia molhada. Rápida é a boca
que apenas aflora os raios de uma outra luz.
Toco-lhe os subtis tornozelos, os cabelos ardentes
e vejo uma água límpida numa concha marinha.
É sempre um corpo amante e fugidio
que canta num mar musical o sangue das vogais.
António Ramos Rosa
domingo, 11 de outubro de 2020
Leituras - 123
"Lírico e meticuloso, O Som da Montanha é uma sublime descrição das agruras da velhice - o estreitamento gradual e relutante de uma vida humana, a par dos súbitos afloramentos de paixão que iluminam o seu desenlace.
De dia, Ogata Shingo, idoso homem de negócios de Tóquio, é atormentado por pequenos lapsos de memória. De noite, associa o rumor distante que lhe chega da montanha vizinha aos sons da morte. Pelo meio, as complexas relações que em tempos alicerçaram a sua vida: uma esposa difícil, um filho mulherengo e uma nora que nele inspira compaixão e frémitos de desejo.
Com esta transluzente teia de fios condutores, Kawabata urdiu um romance que é uma meditação, poderosa e serenamente observada, sobre a inexorável passagem do tempo." (Sinopse)
Aconselho a leitura deste livro de Kawabata.
quarta-feira, 7 de outubro de 2020
Branco e vermelho
Ferindo-me, imprevista,
De branca e de imprevista
Foi um deslumbramento,
Que me endoidou a vista,
Fez-me perder a vista,
Fez-me fugir a vista,
Num doce esvaimento.
Como um deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso,
Fez-se em redor de mim.
Todo o meu ser, suspenso,
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz, suspenso…
Que delícia sem fim!
Na inundação da luz
Banhando os céus a flux,
No êxtase da luz,
Vejo passar, desfila
(Seus pobres corpos nus
Que a distancia reduz,
Amesquinha e reduz
No fundo da pupila).
Na areia imensa e plana
Ao longe a caravana
Sem fim, a caravana
Na linha do horizonte
Da enorme dor humana,
Da insigne dor humana…
A inútil dor humana!
Marcha, curvada a fronte.
Até o chão, curvados,
Exaustos e curvados,
Vão um a um, curvados,
Escravos condenados,
No poente recortados,
Em negro recortados,
Magros, mesquinhos, vis.
A cada golpe tremem
Os que de medo tremem,
E as pálpebras me tremem
Quando o açoite vibra.
Estala! e apenas gemem,
Palidamente gemem,
A cada golpe gemem,
Que os desequilibra.
Sob o açoite caem,
A cada golpe caem,
Erguem-se logo. Caem,
Soergue-os o terror…
Até que enfim desmaiem,
Por uma vez desmaiem!
Ei-los que enfim se esvaem,
Vencida, enfim, a dor…
E ali fiquem serenos,
De costas e serenos.
Beije-os a luz, serenos,
Nas amplas frontes calmas.
Ó céus claros e amenos,
Doces jardins amenos,
Onde se sofre menos,
Onde dormem as almas!
A dor, deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso,
Foi um deslumbramento.
Todo o meu ser suspenso,
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz, suspenso
Num doce esvaimento.
Ó morte, vem depressa,
Acorda, vem depressa,
Acode-me depressa,
Vem-me enxugar o suor,
Que o estertor começa.
É cumprir a promessa.
Já o sonho começa…
Tudo vermelho em flor…
Camilo Pessanha
terça-feira, 6 de outubro de 2020
quinta-feira, 1 de outubro de 2020
domingo, 27 de setembro de 2020
Outono - X
Chama-se Indian summer e é uma pintura digital de lona, mas pareceu-me uma boa vinheta para este início de Outono.
sexta-feira, 25 de setembro de 2020
Piquenique nos Parques da Pena e de Monserrate e no Jardim de Queluz
© José Marques Silva Parques de Sintra - Monte da Lua
No último sábado de cada mês, é “Dia de Piquenique”, uma iniciativa dos Parques de Sintra – Monte da Lua (Tel. 219237300), nos Parques da Pena, de Monserrate nos Jardins do Palácio Nacional de Queluz.
O cesto de piquenique inclui sumo de fruta natural, pão com chouriço da região saloia, quiche, sandes de lombo, salgados, salada, fruta e, claro, queijadas de Sintra, e vem acompanhado de toalha, mantas e utensílios. Para uma família de quatro pessoas o valor do piquenique é de €52, a que acresce o bilhete de entrada nos parques.
É em Monserrate que encontra a Cascata de Beckford, ainda que artificial merece uma visita.
quarta-feira, 23 de setembro de 2020
sábado, 19 de setembro de 2020
Leituras - 122
Uma das minhas leituras de férias foi este livro, publicado em 2013, ambientado na guerra colonial, onde o autor esteve.
“A guerra é uma barbaridade, seguramente a mais inútil de todas as tragédias, mas é também um acto único. É uma espécie de jogo de sorte ou azar; um jogo em que se está e de repente não se está. […] Tudo se cumpre no exato limite dos sentimentos, nas fronteiras precisas do medo e da coragem.” (p. 97)
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Pequena elegia de Setembro
Pintura de R.Mazoyer
Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.
Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
Dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.
Eugénio de Andrade
terça-feira, 1 de setembro de 2020
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
Penha Verde
D. Carlos de Bragança - A porta da Penha Verde
Desenho a pastel sobre tela, 1898
Lisboa, Museu do Chiado
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
Consolo na praia
Vamos, não chores…
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te – de vez – nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.
Carlos Drummond de Andrade
65 anos de poesia. Lisboa: O Jornal, 1989
terça-feira, 11 de agosto de 2020
segunda-feira, 10 de agosto de 2020
Infância
Sonhos
enormes como cedros
que é preciso
trazer de longe
aos ombros
para achar
no inverno da memória
este rumor
de lume:
o teu perfume,
lenha
da melancolia.
Carlos de Oliveira
domingo, 9 de agosto de 2020
terça-feira, 4 de agosto de 2020
sábado, 1 de agosto de 2020
domingo, 26 de julho de 2020
quinta-feira, 23 de julho de 2020
segunda-feira, 20 de julho de 2020
quinta-feira, 16 de julho de 2020
domingo, 12 de julho de 2020
Se cada dia cai
Se cada dia cai,
dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.
Pablo Neruda
quarta-feira, 8 de julho de 2020
domingo, 5 de julho de 2020
quarta-feira, 1 de julho de 2020
domingo, 28 de junho de 2020
Festejar o São Pedro
Hoje é o dia da nossa sardinhada com a família alargada, mas este ano será muito pouco alargada. Só com mais uma família de quatro amigos, que já vieram trazer o vinho para acompanhar o peixe:
Este tinto da Herdade da Rocha é um vinho produzido com as castas Alicante Bouschet, touriga franca, touriga nacional e syrah.
quinta-feira, 25 de junho de 2020
Leituras - 120
Com 23 anos e o objetivo de escrever um livro, Siri Hustvedt troca o interior rural dos Estados Unidos por um esquálido apartamento na exuberante Nova Iorque dos anos 70. Todos os dias, para combater a solidão e a fome, a rapariga parte à descoberta da cidade, que na época é suja e perigosa e repleta de aventuras. Tem como única companhia os heróis literários da sua adolescência – Dom Quixote e Tristram Shandy – e a voz de uma vizinha, Lucy Brite, que todas as noites lhe chega através da parede da sala, entoando um triste cântico e monólogos bizarros, que Siri Hustvedt aponta num diário. A misteriosa Lucy rapidamente se torna uma obsessão.
Quarenta anos depois, a reputada escritora encontra o seu velho diário e o rascunho de um romance inacabado. Justapondo os diversos textos, ela cria um diálogo entre os seus diferentes «eus» ao longo das décadas, num jogo que transforma a narradora – e o leitor – numa espécie de Sherlock Holmes (S.H.) em busca da verdade possível entre a memória e a imaginação.domingo, 21 de junho de 2020
quarta-feira, 17 de junho de 2020
Ao piano - 50
Whistler - At the Piano, 1859
Taft Museum of Art
Ao piano estão a meia irmã e a sobrinha do artista.
sábado, 13 de junho de 2020
Liberdade
Aí que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doura
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa.
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…
Fernando Pessoa
16-03-1935
terça-feira, 9 de junho de 2020
Chove
Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
José Gomes
domingo, 7 de junho de 2020
terça-feira, 2 de junho de 2020
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