Sim, futebol. Com muito gosto. Não para me fazer esquecer o que não é futebol, não. Mas por ser futebol, um prazer. Ver gente, e dos meus, a fazer bem feito. E, com Cristiano Ronaldo, a fazer com esplendor. Amália cantava assim e D. João II mandava assim. Sim, gosto de ver coisas boas (e tem de ser boa uma coisa que tantos amam e a ninguém humilha) tão bem feitas. Cristiano Ronaldo podia ser um dotado de toque bonito, e é, mas é mais do que isso. É a cavalgada que conquista, a vontade que se impõe.
"Eu quero a relva que é tua", diz arrastando os adversários a mais do que eles podem dar. É bom, diz-me a garganta onde me explode um grito. Depois, golo feito, quando ele está lá nas suas celebrações - iguais às de Miguel Ângelo a martelar o joelho de pedra de Moisés: "Fala!" (os génios têm direito aos seus êxtases) -, eu acalmo-me e sonho. Sim, confesso, parto para lá do futebol. Como gostaria de ver tanto saber e vontade para lá dos 90 minutos.
Como gostaria de ver os jornais (digo estes, porque são o meu trabalho, falaria de oficinas se fosse mecânico) feitos com tanta gana e talento apurado pelo treino. Como gostaria de ver chefes galvanizando a equipa. Como gostaria de poder ver obra mostrada com orgulho, como ontem Cristiano Ronaldo pôde mostrar. Ganham muito? Ganham, até demais. Mas isso é para a contabilidade. Eu falo da secção nobre, a do trabalho e obra feita. Aí, tiro-lhes o chapéu: obrigado rapazes de ontem!
Ferreira Fernandes
(Diário de Notícias, 20 nov. 2013)
Sem comentários:
Enviar um comentário