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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Anúncio de gratidão


Sim, futebol. Com muito gosto. Não para me fazer esquecer o que não é futebol, não. Mas por ser futebol, um prazer. Ver gente, e dos meus, a fazer bem feito. E, com Cristiano Ronaldo, a fazer com esplendor. Amália cantava assim e D. João II mandava assim. Sim, gosto de ver coisas boas (e tem de ser boa uma coisa que tantos amam e a ninguém humilha) tão bem feitas. Cristiano Ronaldo podia ser um dotado de toque bonito, e é, mas é mais do que isso. É a cavalgada que conquista, a vontade que se impõe. 
"Eu quero a relva que é tua", diz arrastando os adversários a mais do que eles podem dar. É bom, diz-me a garganta onde me explode um grito. Depois, golo feito, quando ele está lá nas suas celebrações - iguais às de Miguel Ângelo a martelar o joelho de pedra de Moisés: "Fala!" (os génios têm direito aos seus êxtases) -, eu acalmo-me e sonho. Sim, confesso, parto para lá do futebol. Como gostaria de ver tanto saber e vontade para lá dos 90 minutos. 
Como gostaria de ver os jornais (digo estes, porque são o meu trabalho, falaria de oficinas se fosse mecânico) feitos com tanta gana e talento apurado pelo treino. Como gostaria de ver chefes galvanizando a equipa. Como gostaria de poder ver obra mostrada com orgulho, como ontem Cristiano Ronaldo pôde mostrar. Ganham muito? Ganham, até demais. Mas isso é para a contabilidade. Eu falo da secção nobre, a do trabalho e obra feita. Aí, tiro-lhes o chapéu: obrigado rapazes de ontem!

Ferreira Fernandes
(Diário de Notícias, 20 nov. 2013)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

La Vache qui Rit

Ilustração de Benjamin Rabier para a caixa de queijo La Vache qui Rit, c. 1935

Chega uma pessoa à pátria e lê logo no Diário de Notícias, a crónica de Ferreira Fernandes, "Ruminando a frase de Cavaco", sobre uma graçola patética do nosso PR:
"Da Graciosa, um olhar de Cavaco Silva: 'Ontem, eu reparava no sorriso das vacas, estavam satisfeitíssimas olhando para o pasto que começava a ficar verdejante.' O Presidente diz coisas de forma simples mas de que se podem tirar diversas lições, às vezes até opostas. Ele sabe que as vacas não sorriem. As vacas, não, mas há uma que sim: La Vache Qui Rit. E foi essa, talvez, a mensagem que Cavaco nos mandou da Graciosa. Infelizmente, mais uma vez, ele foi enigmático. Quis a frase pastoral dar-nos uma luz ao fundo do túnel? Lembrem-se das imagens do célebre queijo fundido: na embalagem redonda, uma vaca ri com, pendurada nas duas orelhas, a sua própria imagem rindo. Uma vaca ri e ela própria reproduz imagens infinitas de vacas rindo... Eis a mensagem: Cavaco diz que cada português voluntarioso poderá incitar mais e mais portugueses a defrontar a crise com optimismo. Infelizmente o jeito de falar do Presidente também dá para outras interpretações. Aquela técnica de La Vache Qui Rit foi chamada de mise en abyme por André Gide (com Cavaco estamos sempre a tropeçar em referências cultas). Gide referia-se aos contos que contavam outros contos, o que na pintura é um quadro que reproduz uma cópia menor do próprio quadro. Ora o nome mise en abyme, cair no abismo, foi justamente dado pela vertigem causada por se ver a repetição das imagens. Abismo? Será que Cavaco nos quis anunciar alguma coisa má?"