quinta-feira, 22 de setembro de 2011

La Vache qui Rit

Ilustração de Benjamin Rabier para a caixa de queijo La Vache qui Rit, c. 1935

Chega uma pessoa à pátria e lê logo no Diário de Notícias, a crónica de Ferreira Fernandes, "Ruminando a frase de Cavaco", sobre uma graçola patética do nosso PR:
"Da Graciosa, um olhar de Cavaco Silva: 'Ontem, eu reparava no sorriso das vacas, estavam satisfeitíssimas olhando para o pasto que começava a ficar verdejante.' O Presidente diz coisas de forma simples mas de que se podem tirar diversas lições, às vezes até opostas. Ele sabe que as vacas não sorriem. As vacas, não, mas há uma que sim: La Vache Qui Rit. E foi essa, talvez, a mensagem que Cavaco nos mandou da Graciosa. Infelizmente, mais uma vez, ele foi enigmático. Quis a frase pastoral dar-nos uma luz ao fundo do túnel? Lembrem-se das imagens do célebre queijo fundido: na embalagem redonda, uma vaca ri com, pendurada nas duas orelhas, a sua própria imagem rindo. Uma vaca ri e ela própria reproduz imagens infinitas de vacas rindo... Eis a mensagem: Cavaco diz que cada português voluntarioso poderá incitar mais e mais portugueses a defrontar a crise com optimismo. Infelizmente o jeito de falar do Presidente também dá para outras interpretações. Aquela técnica de La Vache Qui Rit foi chamada de mise en abyme por André Gide (com Cavaco estamos sempre a tropeçar em referências cultas). Gide referia-se aos contos que contavam outros contos, o que na pintura é um quadro que reproduz uma cópia menor do próprio quadro. Ora o nome mise en abyme, cair no abismo, foi justamente dado pela vertigem causada por se ver a repetição das imagens. Abismo? Será que Cavaco nos quis anunciar alguma coisa má?"

1 comentário:

  1. "com Cavaco estamos sempre a tropeçar em referências cultas".
    Parabéns, Ferreira Fernandes!

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