João Rui de Sousa ganhou o prémio Vida Literária 2012 atribuído pela APE/CGD. Logo, é deste poeta o poema, sobre um gato, para o dia de hoje. Daqui a uns tempos, colocarei um dele sobre Sintra.
GRISKA, O GATO
Era um gato, era um pato
na deriva do mar alto
da sornice entremeada
com tiques de sobressalto,
em correrias de assalto
na conquista de nem sabe
que coisa ou fito final.
Era um gato que sem rato
era sapo e avelã, era dente no sapato,
era unhas sobre a lã
da carpete-artesanato
ou dos braços do sofá,
era o enfado sem tacto
no exigir seu jantar
bem depressa, bem no prato
com o peixe que haverá.
Era um gato, negro gato,
a dormir no seu relento
de alcatifada quentura
ou de almofadas e lento
movimento de cintura
aquecida em cobertores
bem tingidos de silêncio
de cuidados e brandura.
Era um gato quase ornato
na cadência do seu passo,
no seu tigrino balanço
de recusar o contacto
(a carícia que o satura)
- de se negar ao retrato
quando lhe cheira a ternura.
João Rui de Sousa
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